Culto a ancestrais e antepassados em Porto Alegre, Rio Grande do Sul - Rama dos 4 Caminhos
A ancestralidade é caminho percorrido

Honrar a terra é honrar os ancestrais

Esse conteúdo faz parte de um projeto em constante evolução. Por isso, as informações podem ser atualizadas e ampliadas sempre que novos dados vierem ao encontro de nossa pesquisa. Sinta-se convidado a colaborar: se você é integrante de uma comunidade religiosa das tradições afro-indígenas do Rio Grande do Sul, pode entrar em contato e compartilhar informações relevantes para atualizarmos nossa pesquisa genealógica das tradições de Quimbanda no RS.

As informações aqui apresentadas tiveram como referências iniciais trabalhos acadêmicos de pesquisadores de áreas distintas, como História, Antropologia, Teologia e Ciências da Religião. Sempre que possível, incluiremos as referências ao final das informações.

Que os ventos tragam as sementes do amanhã para todos.

Entendemos que a diversidade de olhares e vozes contribui para que os saberes ancestrais alcancem uma maior profundidade transformadora de consciências. Por isso, o núcleo de estudos e pesquisa ancestral é totalmente gratuito.

1. Matrizes e Tradições que Influenciam a Quimbanda

  • Batuque (Nações/Lados):

    • Oyó/Nagô, Jeje, Ijexá e Cabinda — bases do campo afro-gaúcho.

    • Destaques:

      • Jeje → Príncipe Custódio de Xapanã (Joaquim Custódio de Almeida, c.1832–1936) em Porto Alegre (1899–1935).

      • IjexáCudjobá → Mãe Celestrina de Oxum Docô → Hugo da Iemanjá (1904–1957).

      • Redes antigasPai Paulino do Oxalá Efan (fim séc. XIX), Pai Manoelzinho de Xapanã (1886–1948), Pai Idalino do Ogum (†1987), Mãe Ondina de Xapanã, Mãe Ester de Iemanjá.

    • Esses troncos sustentam a circulação de ogãs, toques, “lados” e prestígio que dão base à Quimbanda no RS.

  • Campo umbandista / Linha Cruzada:

    • A partir de meados do séc. XX → intercâmbios entre Batuque e Umbanda (padrinhos de Exu, troca de símbolos).

    • Esse processo padroniza uma matriz quimbandeira regional, tornando-se terreno fértil para a Quimbanda com corte.

2. Tronco Fundacional da Linha Cruzada (final 1950s–1960s)

  • Pai Eliseu do Ogum

    • Forte atuação no início dos anos 1960.

    • Um dos primeiros a realizar feitura/corte de Exu (introduzindo sacrifício de galo, bode etc.).

    • Iniciador de Mãe Ieda → ela própria diz: “entrei para a Quimbanda com corte na casa de Pai Eliseu do Ogum”.
    • Inovador que aproximou Exu da lógica do Batuque (sangue, milho, batata → oferendas no estilo do Bará).

  • Pai Vinicius de Oxalá

    • Atuação anos 1960–70.

    • Seu terreiro começa nos moldes umbandistas, mas logo adota feitura completa de Exu para eficácia mágica.

    • Descendente da linhagem Mãe Chininha do Xangô → Nelson de Xangô (tronco Jeje).

    • Muito citado na zona norte de Porto Alegre (anos 1970).

3. Troncos Reformadores (1960s–1970s)

Esses três troncos consolidam o modelo ritual e cosmológico da Quimbanda afro-gaúcha:

  • Mãe Ieda do Ogum

    • Médium do Exu Rei das Sete Encruzilhadas.

    • Estrutura calendário, musicalidade (curimba), ritos e difusão.

    • Descendências:

      • Mãe Nilzinha do Maré (apadrinhamentos nos anos 1970).

      • Ogãs/tamboreiros (ex.: Antônio Carlos do Xangô) → fixam estética musical.

  • Pai João Altair do Bará

    • Associado ao Exu Rei Sete de Malê.

    • Descendência:Édison do Exu Corcunda (difusão nos anos 1970).

  • Mãe Teresinha de Oxalá

    • Ligada à Pombagira Mirongueira.

    • Descendência:Pai Neco de Oxalá (Exu Lúcifer) (difusão desde anos 1970).

4. Segunda Geração (Expansão – anos 1980 em diante)

  • Pai Sidnei do Seu Sete (Exu Sete Cruzeiros) – principal divulgador em Alvorada.

  • Joãozinho do Meia-Noite (Exu da Meia-Noite) – difusão em Canoas.

  • Selma do Exu Mangueira – Canoas.

  • Cláudio do Das Almas (Exu Tranca-Rua das Almas) – Canoas.

  • Pai Idy de Oxum (Exu Sete Cruzeiros) – inserção em novas praças (anos 1980–90).

5. Personagens e Entidades de Referência

  • Exu Rei das Sete Encruzilhadas → central na casa de Mãe Ieda.

  • Zé Pelintra, Exu Tata Caveira, Exu Maré, Pomba-Gira Maria Padilha → recorrentes em festas, capas de discos/revistas, ícones entre 1960–2010.

6. Marcos Rituais, Musicalidade e Forma da Quimbanda

  • Padronização (1960s–1980s):

    • Resultado da circulação de agentes e símbolos entre Batuque e Umbanda.

    • Criação de uma comunidade quimbandeira com códigos compartilhados.

  • Ciclo anual (na casa de Mãe Ieda):

    • Sessões semanais.

    • Agosto → festas culminando em 18/08.

    • Festa no Cruzeiro.

    • Festa de Gala.

    • Mesa das Almas (novembro).

    • Ritos de elebó e “feitura”.

    • Curimba (toques, pancadas, pontos cantados e riscados) → identidade sonora.

7. Visão em “Árvore” (resumo textual)

  • Matrizes (séc. XIX–XX): Custódio de Xapanã; Cudjobá → Mãe Celestrina → Hugo da Iemanjá; Pai Paulino → Manoelzinho (1886–1948) → Ondina/Ester; Oyó/Nagô; Cabinda.

  • Linha Cruzada (c. 1958–65):

    • Pai Eliseu do Ogum → Mãe Ieda (transição Umbanda branca → Quimbanda com corte).

    • Pai Vinicius de Oxalá (terreiro pioneiro em sacralização; descendência Jeje).

  • Troncos reformadores (1960s–70s):

    • Mãe Ieda do Ogum → Mãe Nilzinha + músicos.

    • Pai João Altair → Édison do Exu Corcunda.

    • Mãe Teresinha → Pai Neco de Oxalá.

  • Expansão (1980s+): Pai Sidnei, Joãozinho do Meia-Noite, Selma do Mangueira, Cláudio do Das Almas, Pai Idy.

  • Ritos e calendário: semanais + agosto (18/08) + Cruzeiro + Gala + Finados (Mesa das Almas) + elebó/feitura → sustentados pela curimba.

Síntese final:

  • Pai Eliseu do Ogum e Pai Vinicius de Oxalá são troncos fundacionais da Linha Cruzada → sem eles não há Quimbanda com corte.

  • Mãe Ieda legitima sua genealogia iniciática ligando-se a Eliseu.

  • Vinicius marca a zona norte e o campo Jeje/Ijexá como ponto de origem de uma sacralização mais “completa” de Exu.

  • Dos anos 1960–70, emergem os reformadores (Ieda, Altair, Teresinha), e dos anos 1980+, a expansão regional consolida a Quimbanda afro-gaúcha.

Referências:

  • A Quimbanda de Mãe Ieda – Religião “Afro-gaúcha” de “Exus” e “Pombas-gira”. Suziene David.

  • Os Outsiders do além: Um estudo sobre a quimbanda e outras ‘feitiçarias’ afro-gaúchas. Rodrigo Marques Leistner.

  • As religiões afro-gaúchas. Aline Speroni.

As raízes ancestrais estão profundamente entrelaçadas às memórias da alma. Nutrir a memória é cultuar os ancestrais.